Estamos todos no mesmo barco
26/04/22
IBRAM/CONIM realiza workshop para debater aspectos técnicos e regulatórios do TML
No transporte marítimo, quando um minério é embarcado com teor de umidade acima de certo valor – conhecido como TML (Transportable Moisture Limit) – ocorre o perigoso fenômeno de “liquefação” da carga, no qual a carga perde atrito entre as partículas, devido à elevada pressão da água entre e intra partículas do minério, e então tende a se comportar como um fluido. Este fenômeno coloca em sério risco a estabilidade do navio e, consequentemente, a vida dos seus tripulantes, o meio ambiente marinho e a biodiversidade. Diante disto, quando o comandante do navio julga que está ocorrendo a liquefação da carga, ele “busca refúgio”, ancorando o navio em alto mar ou em algum porto mais próximo disponível. Começa então uma rodada de negociações entre as partes envolvidas: fornecedor do minério, armadores e as várias seguradoras (do navio, da carga etc). Além de envolver cifras bastante elevadas, é sabido que esta questão acarreta uma imagem muito negativa para a indústria mineral como um todo, e não apenas para o fornecedor envolvido. Desta forma é fundamental que a empresa exportadora determine de forma assertiva o TML do minério que pretende fornecer e que só o embarque se estiver com teor de umidade inferior ao seu TML. Importante ressaltar que até mesmo um erro de ±0,1% absoluto no resultado pode comprometer o procedimento de embarque, especialmente se a umidade da pilha estiver mais próxima do TML, como em estações chuvosas.
No caso do minério de ferro, o ensaio aprovado pela IMO (International Maritime Organization – órgão da ONU que regula o transporte marítimo) para determinação do TML é o Proctor-Fagerberg. O procedimento deste ensaio necessita de muita perícia por parte dos seus executores, uma vez que pequenos detalhes podem influenciar o seu resultado final. Diante disto, o Grupo de Trabalho de TML, do CB-41 (Comitê Brasileiro de Minério de Ferro da ABNT), decidiu que seria de grande valia realizar um workshop com todos os envolvidos nesse processo, a fim de discutir tanto os aspectos técnicos, quanto os regulatórios relacionados ao TML. Foi então solicitado ao IBRAM/CONIM (responsável pela Secretaria do CB-41) a organização do evento.
O Workshop sobre TML
Debater sobre os aspectos técnicos e regulatórios relacionados ao TML foi o objetivo do workshop realizado pelo CONIM – IBRAM no dia 13 de abril, no auditório do Instituto Brasileiro de Mineração, em Belo Horizonte (MG). O evento contou a participação de 40 especialistas das empresas: Vale, CSN, Anglo American, Samarco, Porto Sudeste, Mineração Usiminas, Arcelor Mittal, Morro do Ipê, Mitra SK, SGS, CB-41 e IBRAM.
Rejane Carvalho, Coordenadora do CONIM e Chefe de Secretaria do CB-41 iniciou o evento com a apresentação da estruturação do trabalho de normalização técnica dos minérios na ABNT e na ISO. Em seguida, o gestor do CB-41 e consultor do CONIM, Arthur Napoleão, ministrou a palestra ‘Dominando os fundamentos: a abordagem de ensaios não é a mesma de análise química’.
O ‘Contexto histórico dos eventos que levaram à necessidade do TML e definições’ foi o tema da palestra do Gerente de Qualidade, Planejamento e Desempenho Operacional da CSN Mineração, Eduardo Melo.
Ainda na parte da manhã ocorreu a palestra ‘Aspectos regulatórios do IMSBC Code e documentos normativos da Autoridade Marítima Brasileira’, ministrada por Dany Policarpo, especialista técnico da Diretoria da Cadeia de Valor de Ferrosos da Vale e Advisor da Marinha do Brasil para transporte seguro de granéis sólidos junto à IMO (International Maritime Organization).
Júlio Nery, Diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do IBRAM, abriu a sessão na parte da tarde falando sobre a ‘A urgência de a indústria mineral para a gestão riscos’.
Logo em seguida o Rodrigo Fina, Coordenador Técnico do Centro de Pesquisas Tecnológicas da Vale, apresentou com detalhes o ensaio do TML e Thaís Fernandes, Analista de Qualidade Master do Porto Sudeste, fez uma breve execução de algumas partes do ensaio.
O grande número de interessados em participar do evento (foi necessário limitar a 40, por limitação de espaço) e o intenso envolvimento dos presentes nas discussões, mostraram muito claramente a utilidade do workshop, bem como uma cultura que tem crescido na mineração brasileira: a segurança e redução de riscos em suas atividades é, sem dúvida, uma questão permanente de sobrevivência.
O Grupo de Trabalho de TML, o CB-41 (Comitê Brasileiro de Minério de Ferro da ABNT) e IBRAM/CONIM continuam trabalhando arduamente para dar visibilidade e clareza ao tema, construindo uma mineração cada vez mais segura e sustentável. Em breve, novas oportunidades deste tema e de outros temas relevantes estarão em discussão entre os especialistas da mineração brasileira.